Não sei o que queres dizer com glória, disse Alice.
Humpty-Dumpty sorriu, com desprezo. Claro que não, até que eu te diga. Quero dizer "aí tens um belo argumento que te arruma!"
Mas "glória" não significa um belo argumento que te arruma
, objectou Alice.
Quando eu uso uma palavra, disse Humpty-Dumpty, em tom de escárnio, ela significa o que eu decidir que significa, nem mais nem menos.
O problema é, disse Alice, se se pode obrigar as palavras a significar tantas coisas diferentes.
O problema é, disse Humpty-Dumpty, quem manda. Apenas isso.

Lewis Carroll, Alice no país das maravilhas




rascunhos
de
abordagens
(eventualmente)
literárias



GNM


Nasci muito perto do fim dos anos 70. O meu nascimento aconteceu às primeiras horas de um dia gelado de Dezembro, e, desde aí, jamais consegui libertar-me do frio que se fazia sentir naquele dia. A normalidade foi algo que durante toda a vida inconscientemente ansiei, mas sempre recusei. Em criança ela espreitava-me durante a noite, olhando-me do lado de fora da janela. E eu, fingindo não a ver, fechava as cortinas...

No meu sonho...

⊆ segunda-feira, dezembro 31, 2007 por GNM | . | ˜ 19 comentários »

No meu sonho estavamos
deitados, num banco de jardim
de verdes mal pintados,
velhos, desgastados, no centro
de uma enorme pedra plana,
sem princípio... sem fim...

Tu e eu... a únicas pessoas

do meu sonho...

Experimentavamos todas as
posições. E esquecemos, por momentos,
o mundo que nos estranha, acanha,
entranha... O mundo de outros tromentos,
de outras paixões.

E debaixo de um céu escuro
enterrámos as armas e sem pudor
nem carmas, experimentavamo-nos
intensamente... Sem passado nem futuro,
só tempo presente.

Os teus gemidos, mal contidos,
ecoavam no silêncio.
Tu, corada, excitada, molhada,
perseguida pelos sentidos.

E eu... eu sem saber se era mesmo eu...

E entre suspiros, espasmos, orgasmos,
rimos, choramos, sem saber se
amámos, odiámos, ou
simplesmente... ali ficámos...

Tu e eu... meras personagens do teatro
de marionetas dos deuses...

E as lágrimas de prata, da paixão
ingrata, escorriam-nos pelo rosto.
Beijei as tuas... era agridoce, o sabor.
E por fim caíram naquela pedra
que parecia tão forte, tão pura, tão dura...
E rasgando-a numa fissura,
deram vida, na forma de uma flor.

E agora, acordado, enquanto escrevo,

o meu coração estremece, como se
eu ainda estivesse, dentro de ti...
Mas foi apenas um sonho...
Porque tu partiste...
E nunca mais voltaste.


⊆ sábado, dezembro 15, 2007 por GNM | . | ˜ 10 comentários »







Apenas não me apetece...

⊆ quarta-feira, março 21, 2007 por GNM | ˜ 66 comentários »

Apenas não me apetece escrever.

Abraços...


Quero amar a minha vizinha...

⊆ domingo, janeiro 28, 2007 por GNM | . | ˜ 40 comentários »

Quero amar a minha vizinha em
segredo, enquanto o seu marido não chega.
E mais uma vez e outra e uma vez mais...
E ouvi-la, arquejante, dizer que é perigoso.

Perigoso é passear pelo parque.
Há lá passaros e árvores e flores
e um monte de outras coisas perigosas...

Quero traçar planos. Mas só planos estúpidos.
Enquanto lhe dou outro beijo, debaixo da água quente.
Por que é que o tecto não nos esmaga a cabeça
e não nos mata de vez?

É perigoso passear pelo parque...

Custa-me deixar-te, vivo...
Tantos que morrem e logo eu, o vivo!
Eu! Eu que fiz tudo por tudo para morrer.

E depois desco a rua e tento lembrar-me do teu nome...
Também tens nome, não tens?
Há mulheres com cara de Maria, Joana, ou...
Tu tens cara de Perversa.

Podiamos dar-nos bem, os dois. E passeavamos de mão dada
(mas não pelo parque, porque o parque é perigoso)
e diziamos mentiras.

E amavamo-nos nos lugares mais estranhos e nas
posições mais complicadas...
Até ao fim, das noites, sem fim.

E, por fim, morriamos; cada um de nós na sua eutanásia:
Tu, na nossa cama, enquanto dormias e eu velava por ti.
E eu a sorrir, perante um pelotão de fuzilamento.