Não sei o que queres dizer com glória, disse Alice.
Humpty-Dumpty sorriu, com desprezo. Claro que não, até que eu te diga. Quero dizer "aí tens um belo argumento que te arruma!"
Mas "glória" não significa um belo argumento que te arruma
, objectou Alice.
Quando eu uso uma palavra, disse Humpty-Dumpty, em tom de escárnio, ela significa o que eu decidir que significa, nem mais nem menos.
O problema é, disse Alice, se se pode obrigar as palavras a significar tantas coisas diferentes.
O problema é, disse Humpty-Dumpty, quem manda. Apenas isso.

Lewis Carroll, Alice no país das maravilhas




rascunhos
de
abordagens
(eventualmente)
literárias



GNM


Nasci muito perto do fim dos anos 70. O meu nascimento aconteceu às primeiras horas de um dia gelado de Dezembro, e, desde aí, jamais consegui libertar-me do frio que se fazia sentir naquele dia. A normalidade foi algo que durante toda a vida inconscientemente ansiei, mas sempre recusei. Em criança ela espreitava-me durante a noite, olhando-me do lado de fora da janela. E eu, fingindo não a ver, fechava as cortinas...

Desprendo-me, como um fruto...

⊆ segunda-feira, outubro 02, 2006 por GNM | . | ˜ 31 comentários »

Desprendo-me, como um fruto dos ramos da
árvore esquecida na falésia. O tempo pesa-me e gelou-me
o sangue. A ausência transformou-te em descrença.

Toco-te em sonhos e
acordo com as pontas dos dedos queimadas.

Na falésia dormem, com a cabeça sobre o
braço dobrado, as esperanças de fuga.
Os barcos desfilam, agrilhoados ao mar, exibindo
velas demasiado brancas…
Aqui, no alto da falésia, restam somente
pedras, um sonho ancestral

e a imensa vontade de saltar.

Quando voltares, só tens de percorrer
meio caminho. Não sentirás buracos na
estrada, os semáforos serão todos esperança,
as rotundas estender-te-ão o braço,
os cruzamentos serão desertos.

Por que não voltas agora?
Pela madrugada as viagens são mais breves,
o ar é mais puro, os frutos são
frescos e doces.

Quando voltares vou mostrar-te uma
falésia, onde uma pequena árvore, sozinha,
venceu a dura negritude dos rochedos
.


31 respostas a Desprendo-me, como um fruto...

  1. Anónimo Says:
    Quando voltares, mostro-te o quanto gosto de ti =)
    Beijinho
  2. angelis Says:
    Quando alguém voltar...vamos mostrar-lhe aquelas coisas belissimas que só se mostram a pessoas especiais. Beijinhos :)
  3. Eli Says:
    A relatividade do tempo assusta-nos por vezes. Quem seria eu para objectivar.

    Continuas a escrever poemas dignos de publicação!

    :)
  4. Anónimo Says:
    lindoooo :) beijinhos (recadados) poeta
  5. Maria Carvalho Says:
    Quando eu voltar...volto pela madrugada, farei meio caminho e quero que me mostres tudo o que guardas para mim!! Meu querido: tenho saudades tuas, que vou colmatar em breve. Beijos, muitos.
  6. joaninha Says:
    Olá! Estava angustiada por não encontrar nada de novo, mas eis que o presente chegou! Muito obrigada. Continuo a pensar que escreves com o que tenho em pensamento... inspiração! e para ti, com a vontade de escrever que me transmites, aqui vai. Não guardes tanto silêncio, gosto de falar com os amigos.
    Beijinhos
    XXXXXXXXXXX

    A ausência não vai trazer descrença, não.
    Deixa o rasgão profundo, como as brechas na terra,
    nos estios quentes e longos, como oceanos…
    que não são a fronteira para nos separar…
    mas um laço apertado, para mais te amar.
    E os frutos maduros, as ondas do mar…
    as discórdias, as zangas, a guerra…
    não vão acabar com a minha ilusão…


    o gosto dos teus lábios, são cerejas maduras,
    são figos, são chocolate a derreter…


    nas veredas do monte vejo a tua silhueta desenhada
    e quero passar-lhe os dedos logo ao sol posto
    para voltar a sentir as doces curvas do teu rosto,
    onde ainda ontem passava minha boca,
    cheia de ternura envergonhada,
    mas plena da minha paixão louca…


    Suculentos, os teus beijos deixam-me em êxtase,
    são o suco das ameixas da minha infância…


    E logo, ao entardecer, vou outra vez ao monte,
    para recordar o sentir e voltar a vibrar,
    porque quero dentro de mim guardar, eternamente,
    o que a distância não faz parar,
    nem a ausência jamais fará perder…
    Vou esperar-te. Que venhas de mansinho,
    Como a brisa que vem do rio,
    para meus braços, para te dar meu carinho…

    isabel
  7. Carla Says:
    Lindo :)

    um...

    ´´´´´´ ¸.•“´..--^--..`“•.¸
    ´´´´´´)______Beijo______(
    ´´´´´´ `“•.¸.______.¸.•“´
  8. agua_quente Says:
    E eu volto hoje aqui, depois de uma ausência grande. A magia das palavras continua a mesma. :)
    Beijos
  9. Anónimo Says:
    Obrigada...pela volta tua.







    ...um beijo meu Gonçalo Nuno.
  10. Thiago Forrest Gump Says:
    Texto simples e gostoso. Uma leitura fácil de viajar! :)
  11. Fernando Palma Says:
    Sempre admiriei a noite.
    Na madrugada, sempre acei que tudo é difrente, e mais belo : o romance, as viagens, o céu...

    beijo!
  12. Rui Says:
    O imenso anseio por um regresso.
  13. Twlwyth Says:
    Antes do amanhecer aguardo o teu regresso e desprendo sombras aparentes, que deixarei perto da morada de quem estranha a minha ausência.
    Gostei dessa falésia, onde uma árvore supera a escuridão petrificada. Beijinhos e fruta. :)
  14. AnaGarrett Says:
    As borboletas voltarão.
    São fases da vida.
    Beijinho
  15. Luis Enrique Says:
    É um poema cheio de verdade, belo e complexo. Uma criaçâo perfeita.
    "Quando voltares, só tens de percorrer
    meio caminho. Não sentirás buracos na
    estrada, os semáforos serão todos esperança,
    as rotundas estender-te-ão o braço,
    os cruzamentos serão desertos.

    Por que não voltas agora?
    Pela madrugada as viagens são mais breves,
    o ar é mais puro, os frutos são
    frescos e doces."
    Bem seja.

    Um abraço
  16. pecado original Says:
    Há horas para chegar a todos os lados.
    Talvez a madrugada seja pesada demais e o caminho já fácil.
    Talvez por essa arvore tudo seja possivel. Talvez....
  17. Pink Says:
    Poema construído com ums imagística muito original e bela. Depois dos momentos mais escuros, surge a esperança e o regreso desejado será suave, doce ...
    Adorei o teu escrito!

    P.S. Um aparte, em nada a ver com isto :-)) - eu também não aprecio a água dos rios. Adoro água, nadar, mergulhar, boiar ... mas no mar de água salgada!
  18. Francesca Says:
    Gosto das nossas tardes, dos nossos momentos, da tua voz rouca a ler-me a tua poesia ;)

    Beijos muitos meu menino!
  19. por uma lágrima Says:
    Qando eu voltar...
    Quero viver o que não vivi
    Recordar o que quase esqueci
    Amar quem me fez sorrir
    Quero voltar...
    para não mais partir
    Beijo de lágrima salgada com sabor a doce saudade
  20. Anónimo Says:
    E temos tantas coisas para mostrar ...

    Bom final de semana!
    Beijinhossss
  21. Carla Says:
    _____BOM__FIM DE__SEMANA!
    _____LET__THE__SUN__SHINE
    ______IN___YOUR___SMILE___
    ____8888888888888888888888
    _____88888888888888888888
    _______8888888888888888
    _________888888888888
    ______________**
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    ___#######____**____#######
    ____#######___**___#######
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    ________#####_**_#####
    __________####**####
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  22. mnemosyne Says:
    Um poema magnifico...uma tela em que as representações se amalgamam, ganham vida e nos invadem os sentidos :)
  23. Lis Says:
    resistência
  24. Lady Says:
    Um "poema" tão profundo e tão suave... envolto em finos lençois de melancolia... Gostei, e um beijinho grande
  25. Light Says:
    Como é doce este poema,como é bom envolver-me nele e deixar-me guiar pelas madrugadas frescas de ar puro que me enchem os pulmões e a alma de esperança renovada
  26. Susana Fonseca Says:
    O poema é, como sempre, maravilhoso, a escolha musical é também de excelência.
  27. Joker Says:
    Vejo uns braços abertos cheios de regresso por voltar!

    Um grande beijinho para ti!
  28. Alex Says:
    Não sei se é um sonho este teu poema. Parece-me. Nunca deixes de sonhar.

    É o que me dizes sempre!
  29. Maçã de Junho Says:
    Cheguei por meio da Oficina das Ideias... Li... Não pensei... Por instinto fiz "copy" "paste" para um txt e fiquei a olhar... para o conjunto de palavras, sem olhar para o que poderia estar atráz das.
    Pensei em comentar, achei que não...
    Mas agora reparo que o comentário já está escrito...
    Vou carregar em "Login and Publish"
    e olha... Já está...

    Maçã de Junho
  30. Å®t Øf £övë Says:
    Gonçalo,
    Bonitas palavras, que refletem uma enorme esperança num regresso muito desejado.
  31. Amita Says:
    Muito lindo, Gonçalo. Na suave ternura de um esperançado apelo, toda a escuridão desaparece.
    Um bjinho grande

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