Já mal me recordo das...
⊆ quinta-feira, junho 29, 2006 por GNM | Poesia . | ˜ 43 comentários »Já mal me recordo das noites em que o sangue fervilhava
e nos moldávamos como barro nas mãos de um oleiro universal.
Como dois troncos de oliveiras centenárias que, torcidos, se entrelaçam.
Tacto. Espasmos. Asas.
Somos um poema por terminar.
Não! Não podemos ser um poema, somente um amontoado de versos indecifráveis.
Talvez sejamos dois gatos em sétima existência. Esgotámo-nos!
E a água gelada cai de onde menos esperamos.
Tentas semear-me…
Mas na terra infértil que sou nascem apenas cactos
e os espinhos atravessam-me a alma.
«Não te demores…»
Uma guilhotina de prata amputou-me as pernas.
Quero-te. Mas não consigo caminhar até ti.
Conheces o aroma das horas quando a espera se estilhaça em mil cacos?
Conheces-me?
Tenho frio. O meu peito é um bloco de gelo com arestas cortantes.
Duro. Pesado. Imóvel.
Posso dar-te as mãos? As minhas mãos estão quentes, ainda.
Exibem as cicatrizes dos rasgos por onde fugiu a minha inocência.
Estendo-as para ti, mas não as vês…
Ainda que o acaso nos negue, permaneço.
Dás-me as tuas mãos?
Sabias que matei um homem?
Empurrei-o para a frente de um comboio de saudade. Morreu desmembrado.
Porquê? Porque sim.
Conta-me… Diz-me como são as tuas mãos…
Desmembrado, não consigo poetizar-te as mãos.
Não sei se sou deus ou o diabo.
Serei as sílabas de uma palavra por inventar?
Talvez não passe de uma criança confusa.
Um objecto sem utilidade.
E gente? Não posso ser gente?
Por cada folha que te escrevo morro um pouco mais…
As folhas que te escrevo são rasgadas num gesto brusco de dentro de mim.
Rasga-me cada palavra; cada sentimento.
Quero parar de te escrever.
Continuo a escrever-te.
Odeio-me.
29/6/06 12:23 p.m. Caro Gonçalo,
antes de ler as palavras da Maria Paula já as tinha na ponta da língua... lol
Onde foste buscar este dom de arrepiar até à espinha quem te lê? Gostava de ter metade do teu talento...
"Sabias que matei um homem?
Empurrei-o para a frente de um comboio de saudade. Morreu desmembrado.
Porquê? Porque sim." Confesso que estes versos me fizeram rir. :)
Quanto ao teu livro, já soubeste alguma coisa sobre se ele vem ou não para a Fnac de Coimbra? Era uma ideia mandares por correio. Fazes ideia de quanto dinheiro custará?
Deixo-te um beijo...
29/6/06 9:28 p.m. gostei de ler.te
voltarei
jocas maradas
29/6/06 10:29 p.m. Não te odeies, ama-a...
Não escrevas, escreve-a...
Escreve-te na sua pele!!!!
Lindo...gostei muito do que li!
29/6/06 10:50 p.m. :) Olá! Mórbido, mas magnifico!!!!
Mhmmm... pressinto ai uma contradição... e quanto maior ela é, mais forte se torna o sentimento... Deixa-te levar pela maré... onde cada onda é uma estrofe que se inventa e se inscreve no teu e/ou no dela... ;) Beijinhos e inté
30/6/06 12:22 a.m. «Quero parar de te escrever.
Continuo a escrever-te.
Odeio-me.»
Contradição estranha, tão familiar...
Vou repetir-me uma vez mais, sem medos! Gosto muito, muito, de te ler.
Beijo grande e um sorriso daqueles!
30/6/06 12:33 a.m. Deixo-te um beijinho e um abraçao :*
30/6/06 4:22 a.m. Dá as mãos e escreve sempre...
xxx
Deixa-me
Sentar ao teu lado.
Afastada...
Do mundo que nos rejeita.
Insatisfeita,
Olhas o lago
Onde se suicidam as vozes
Que nascem sereias:
Servas da morte,
Encantando marinheiros
Perdidos na cidade.
Crueldade?
Perguntas.
Piedade.
Respondo.
Damos as mãos.
A morte
É companheira
Dos mais sensíveis.
Percebi.
Afirmaste.
Deixa-me
Tocar a tua alma.
A calma...
É-me necessária
Neste mundo que nos enjeita
Deixa-me
Ser tu:
Menina.
susana júlio
30/6/06 11:54 a.m. Bonito Gonçalo! Muito, muito bonito!
*
30/6/06 1:44 p.m. bom dia para ti.
deixei-te um comment no blog da serpentine
hoje não consigo dizer mais nada.
um beijo para ti
30/6/06 6:07 p.m. querido gonçalo,
é admirável o teu poder de expressão de facto
por favor responde ao meu último comentário logo que possas, sim?
quero mesmo comprar este livro!
beijinhos,
alice
30/6/06 6:43 p.m. Tens uma grande capacidade de mostrar o lado extremo das relações. Este é, sem dúvida, um óptimo texto.
"Quero-te. Mas não consigo caminhar até ti." E aí está a essência da situação.
Beijos
30/6/06 8:20 p.m. Podes parar um pouco, mas...não deixes de escrever. O teu livro já está no meu saco de viagem. Parto amanhã para duas semanas de merecidas férias. Grande abraço.
30/6/06 8:57 p.m. Condeno-me por não ter comprado ainda o livro!!! Condena-me tu também, escritor de sonhos.
E agradeço-te a música, ignorância completa da minha parte...nunca tinha ouvido esta música dos Placebo. E eu que me considero eterna admiradora da sua música.
30/6/06 11:10 p.m. E por vezes tão forte, por vezes tão inexplicável. Quer fugir de algo que nos prende cada vez mais, querer sair de um beco, quer apenas sermos nós próprios e não conseguir, algo que não deixa, impede... Adorei!
1/7/06 12:27 a.m. O ódio não cabe aqui. Escreva, escreva...
1/7/06 11:59 a.m. Lindo!
Não te odeies...Ama...
1/7/06 2:30 p.m. Oh Gnm!!
Deixas-me assim :D
Beijinhos
Bom fim-de-semana**
2/7/06 12:44 a.m. É na verdade um poema de uma grande intensidade!! Mt bem escrito, na semâmtica das ideias.
E dos sentimentos?!
Serás tu um verdadeiro sentir...
ou as palavras do tema dos Placebo
'...méfiez-vous des apparences, ça n'a aucun sens...'! deixam algo no ar?!?
Placebo, adoro!! Som e voz!! Mt bom gosto, como sempre, creio!
Ultimo album?
bjs em tons de noite perfumada
2/7/06 1:15 a.m. Gostei de tudo!!! A musica incendiou-me o momento...biblioteca de sonhos..
Força!
Paulo
2/7/06 3:18 p.m. Gonçalo excelente poema, a força que as tuas palavras têm ultrapassam o querer...
intenso e belo!
parabéns Poeta
fica um beijo meu e obrigada por partilhares a tua bela poesia
lena
2/7/06 5:14 p.m. De todos que já li aqui, este foi o que eu mais gostei.
Abraços
2/7/06 7:47 p.m. Em dias como hoje, que aches que o teu mundo não tem qualquer sentido nem cor... Eu estou aqui, como sempre estive e hei-de estar... Porque não há mais nenhum lugar onde possa estar...
Hoje deixo-te um abraço, porque os beijos estão gastos e ppq sei que precisas de mais...
PS: Lembra-te que estou sempre contigo...
2/7/06 11:36 p.m. Já mal me recordo...
3/7/06 1:23 a.m. POTENTE. TOCANTE.
EXTRAORDINÁRIO*
3/7/06 2:51 a.m. ...e eu gostanto de ti.
toma as minhas mãos.fica com elas.derrete o gelo que tanto te queima.estou por aqui.sabes que sim...porque...!
Gonçalo Nuno.meu doce Homem.
3/7/06 3:38 a.m. Gostei, vou voltar... :)
3/7/06 10:53 a.m. É bom perceber, que mesmo depois da "fama", ainda tens disponibilidade para nos deixares estas pérolas. Que bom!!!!!
O acaso trouxe-me aqui e vou permanecer ... :)
sorriso e beijo para ti
3/7/06 3:23 p.m. Li, reli e voltei a ler.
A profundidade e intensidade com que dizes, faz-me sentir insignificante, para opinar sobre esta maravilha. Gosto muito de te ler e de sentir o que escreves.
Espero poder ter o livro II dos tudo em muito mais do que o nada...
Um beijo amigo
3/7/06 10:38 p.m. Gélido esse amor...mas lindo.
beijso (recatados)
4/7/06 12:25 a.m. desafio cinematográfico...
4/7/06 2:11 a.m. Sempre que te leio, clico para te comentar... encosto a cabeça à mão esquerda, com o braço apoiado na secretaria, e fico, com um brilho no olhar e um sorriso ternurento, a olhar para o monitor sem saber o que escrever, porque as palavras são de uma pobreza terrivel quando preciso delas para defenir o quanto gosto de te ler...
Um beijinho
4/7/06 11:39 p.m. Só escreve assim quem é mesmo Mestre na arte de brincar com as palavras e quase transformá-las em objectos que nos tocam, que podemos ver e pegar... com características próprias, texturas, cores, temperaturas...
Texto incrível. Adorei.
5/7/06 12:01 a.m. Forte, sentido até à medula, arrepiante mesmo ... mas muito belo! Gostei imenso.
Um beijo
5/7/06 2:30 p.m. ... não são estas as palavras do ódio! arriscaria, que aqui há muito amor...
5/7/06 4:33 p.m. Às vezes escrever é o que nos resta fazer... Morre a dor, morre a escrita.
5/7/06 11:35 p.m. Como ainda não atualizou, deixo-te um abraço.
5/7/06 11:47 p.m. Continuas a escrever... e eu... a adorar ler-te!
Beijos
8/7/06 12:28 a.m. O ódio é o sentimento mais próximo do amor.
8/7/06 5:06 p.m. Absolutamente fantástico. Esta dualidade que nos consome, não é? Esta dualidade que consome o escritor, o poeta (se bem que tenha alguma dificuldade em usar estas palavras no meu caso). O homem consumido pelo que escreve. É absolutamente (real e) fantástico: O olhar de poeta.
8/7/06 8:27 p.m. Perfeito!
10/7/06 10:28 a.m. "
evoluir não se compadece com a sofrega busca do saber em quantidade.
não se trata de simplesmente saber mais.
trata-se de saber melhor!
"
JAS
10/7/06 6:35 p.m. Foi o texto da tua autoria que mais gostei de ler até hoje. Subscrevo o Tiago Forrest Gump!
CSD
12/8/06 4:36 a.m. ...que triste que te sinto.não consigo deixar de te ver e imaginar...triste.
Gonçalo.