Não sei o que queres dizer com glória, disse Alice.
Humpty-Dumpty sorriu, com desprezo. Claro que não, até que eu te diga. Quero dizer "aí tens um belo argumento que te arruma!"
Mas "glória" não significa um belo argumento que te arruma
, objectou Alice.
Quando eu uso uma palavra, disse Humpty-Dumpty, em tom de escárnio, ela significa o que eu decidir que significa, nem mais nem menos.
O problema é, disse Alice, se se pode obrigar as palavras a significar tantas coisas diferentes.
O problema é, disse Humpty-Dumpty, quem manda. Apenas isso.

Lewis Carroll, Alice no país das maravilhas




rascunhos
de
abordagens
(eventualmente)
literárias



GNM


Nasci muito perto do fim dos anos 70. O meu nascimento aconteceu às primeiras horas de um dia gelado de Dezembro, e, desde aí, jamais consegui libertar-me do frio que se fazia sentir naquele dia. A normalidade foi algo que durante toda a vida inconscientemente ansiei, mas sempre recusei. Em criança ela espreitava-me durante a noite, olhando-me do lado de fora da janela. E eu, fingindo não a ver, fechava as cortinas...

Escombros erguidos

⊆ quinta-feira, novembro 24, 2005 por GNM | ˜ 31 comentários »

Sei que não consegui corresponder,
Ao teu impecável francês parisiense,
E a primeira impressão sabe dizer,
Aquele que perde, aquele que vence.

Mas comprei um casaco novo a estrear
(Muito simples, mas bem aprumado),
Percebi que não escapou ao teu olhar,
Aquele meu casaco velho e remendado.

E pus as pantufas na máquina de lavar
(Esqueci que não me vês com elas calçadas),
Ficaram sem cor e com solas a descolar,
Estão ainda mais feias, ao menos lavadas.

E pergunto-me, ainda confuso e pensativo,
Por que me senti invulgarmente à vontade?
Não obstante o teu porte seguro e altivo,
Soprou sobre nós o vento da cumplicidade!

Serás eco de uma pré-existência passada?
Senti-me como viajante de regresso a casa,
Depois de uma viagem amarga e prolongada,
Redescobrindo uma realidade que o extravasa.

Vagueámos sem destino por mais que uma hora,
Os ponteiros rodavam demasiado apressados,
Tive vontade de atirar os nossos relógios fora,
E pedir aos cruéis sinos que ficassem calados.

Mas não o fiz. Caminhei e encolhi os ombros,
A muralha da timidez permaneceu erguida.
Como gostava de a ter desfeito em escombros,
E poder desvendar doravante uma nova vida…

Plaisir d’amour ne dure qu’un moment,
Chagrin d’amour dure toute la vie.


31 respostas a Escombros erguidos

  1. nana Says:
    nem de propósito tenho lá no blog o post, só preciso de cinco minutos...e como dizes, esses podem ir parar ao baú de memórias e durar uma eternidade!
    ;)
  2. Carla Says:
    memórias...momentos...eternos pensamentos...mesmo que o amor se torne ausente...

    Bjx
  3. Anónimo Says:
    Um momento..pode fazer valer uma vida! beijinho grande. Ah e sim adoro a cor rosa! :)
  4. mfc Says:
    Quantas vezes já me sucedeu querer dizer tanta coisa a alguém,mas as palavras emudeciam na minha boca!
  5. Anónimo Says:
    Lindo!!!
    Momentos, ocasiões, palavras... Td paira no ar, cabe-nos a nós agarrá-los!!!
    Sorrisos e beijinhos
    Um arco-íris

    Plaisir d’amour ne dure qu’un moment,
    Chagrin d’amour dure toute la vie.
  6. Anónimo Says:
    opaaaa roubaste-me a minha próxima musica :) que bom gosto GNM!!!!
    O poema está uma delicia...ai l'amour lámour e a musica aiii aiii!!! :) Prontos recomposta !!!
    Beijos da Princesa ;)
  7. Anónimo Says:
    delicioso teu poema!!!!

    ps:se queres ler poemas em frances vai aqui:
    http://www.menina.canalblog.com

    beijos p'ra ti;)
  8. Cláudio B. Carlos Says:
    Oi GNM!

    Belo poema!

    Abraços do CC.
  9. Raio de Sol Says:
    frase bela e verdadeira que nesse sotaque fica perfeita...boa resposta... jinhuz
  10. Passaro Azul Says:
    E assim se fica,com a emoção a transbordar num coração cheio de amor!
    Ah!o AMOR!
    Impressionante, esse poema e toda a carga emotiva a que nos transporta.
    Um abraço e o meu até breve de Pássaro que voa, mas volta, volta sempre!
  11. Anónimo Says:
    Que a tinta da minha caneta, hoje, apenas salpique este blog com um beijo.
  12. Anónimo Says:
    Já há uns dias que não passava por cá: tanto falaram na gripe das aves que devo ter apanhado a gripe das codornizes!...

    Espero na próxima semana já poder retomar as visitas normais.
    Bom fim de semana para ti e até breve!
  13. I Says:
    mas que bonito este poema, Gonçalo! fez-me recordar tantas coisas passadas, sensações boas mas ja longínquas.
  14. Maria Carvalho Says:
    Bonito como sempre...obrigada pela cumplicidade na blogosfera...beijinhos
  15. LUIS MILHANO (Lumife) Says:
    Apoiamos a Candidatura de MANUEL ALEGRE à Presidência da República.

    Bom fim de semana.
  16. Fragmentos Betty Martins Says:
    "Escombros Erguidos"

    Lindo... muito belo!

    O prazer do amor dura somente um momento - os desgostos d´amor duram toda a vida.

    É real - mas - amamos!

    Bfs

    Beijinhos
  17. Squeezy Says:
    mto,mas msm, mto lindo.....
  18. agua_quente Says:
    Há momentos que valem por uma eternidade. E também há dessas pessoas que pensamos já conhecer de outra existência...
    Gostei muito do teu poema. Beijos
  19. Marta Says:
    lindo...mas essa muralha tem de ser quebrada...p se aproveitar estas "visitas a casa" ao máximo :).
    bom fim de semana
    p.s.-infelizmente n é fingimento literario...antes fosse
    bjokas
  20. Rita Says:
    Estou completamente "apaixonada" por este blog !
  21. Anónimo Says:
    a importancia do "tempo".... gostei ;)) Beijinho e b f semana*
  22. Que Bem Cheira A Maresia Says:
    Muito belo o que tu escreveste, adorei!

    Tem um bom fim de semana

    Beijo da Lina/Mar Revolto
  23. Poesia Portuguesa Says:
    Estive aqui a (re)ler-te novamente. A decisão sobre a escolha do Poema que quero publicar no meu Blog está difícil. Porque gosto de tantos...

    Se existir algum inconveniente na divulgação dos teus Poemas, diz. Não o farei... agora vou continuar com a escolha...

    Um abraço e bom fim de semana ;)
  24. Luís Monteiro da Cunha Says:
    Caro amigo...
    Como da simplicidade, nasce assim, na teia das palavras, algo tão belo.
    Momentos de encontros e desencontros, cumplicidades expectantes, errantes até, que apenas confirmam a regra de que no amor nada é previsivel, cada minuto tem a sua magia, mesmo na timidez assaz castradora.

    É um prazer ler-te

    Bom fim de semana
  25. Rosario Andrade Says:
    ... e custa ainda mais esquecer aquilo que poderia ter sido. Lidar com a duvida agreste de uma possibilidade é mais acutilante do que algo que foi tentado e falhou. Porque se tentamos temos aquele balsamo "ao menos tentei" para passar nas feridas...

    Abracicos!
  26. Maria Carvalho Says:
    Voltei....asromasdepaula!! Beijos
  27. Anónimo Says:
    Magnifico poema!
    '' Vagueámos sem destino por mais que uma hora,
    Os ponteiros rodavam demasiado apressados,
    Tive vontade de atirar os nossos relógios fora,
    E pedir aos cruéis e sinos que ficassem calados.''

    Bom começo de semana!
    *^*^*^
  28. Anónimo Says:
    Meu frances nao te acompanhou, rs...
    Lindo texto, eu acredito no amor ainda, sabia?
    E nao acho que os seus prazeres se fazem esquecer assim tao fácil, lembro-me dos meus bons momentos todos!!!
  29. Anónimo Says:
    Bom poema do quotidiano. Gostei.
  30. lena Says:
    bonito o teu poema
    momentos e memórias que ficam numa cumplicidade de palavras

    bejinhos

    lena
  31. Anónimo Says:
    Excellent, love it! »

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