Não sei o que queres dizer com glória, disse Alice.
Humpty-Dumpty sorriu, com desprezo. Claro que não, até que eu te diga. Quero dizer "aí tens um belo argumento que te arruma!"
Mas "glória" não significa um belo argumento que te arruma
, objectou Alice.
Quando eu uso uma palavra, disse Humpty-Dumpty, em tom de escárnio, ela significa o que eu decidir que significa, nem mais nem menos.
O problema é, disse Alice, se se pode obrigar as palavras a significar tantas coisas diferentes.
O problema é, disse Humpty-Dumpty, quem manda. Apenas isso.

Lewis Carroll, Alice no país das maravilhas




rascunhos
de
abordagens
(eventualmente)
literárias



GNM


Nasci muito perto do fim dos anos 70. O meu nascimento aconteceu às primeiras horas de um dia gelado de Dezembro, e, desde aí, jamais consegui libertar-me do frio que se fazia sentir naquele dia. A normalidade foi algo que durante toda a vida inconscientemente ansiei, mas sempre recusei. Em criança ela espreitava-me durante a noite, olhando-me do lado de fora da janela. E eu, fingindo não a ver, fechava as cortinas...

Perto da fronteira solar...

⊆ sexta-feira, março 17, 2006 por GNM | . | ˜ 27 comentários »

Perto da fronteira solar,
ainda sob a luz condenada da noite,
escrevo sobre esse silêncio febril
na penumbra de uma chama tremida,
essa tempestade de águas turvas,
esses olhos ardidos pela insónia
convertidos em cegueira sem limites:
Escrevo sobre o amor.

É-se enfeitiçado como um bosque
onde sopra a brisa floral da Primavera,
incendiado como um bosque inundado
pela secura do sol espesso de Verão,
desnudado como um bosque suspenso
alcançado pela luz dourada do Outono,
condenado ao frio glaciar como um bosque
invadido pela brancura da neve do Inverno,
derrubado como um bosque prisioneiro
de um novo condomínio de luxo.

É-se rasgado e devorado como carne.

Tudo não passa de um clamor vertiginoso,
de uma miragem no horizonte embriagado,
obsessão desenhada pelas nuvens,
perfume enresinado dos pinheiros,
sempre passageiro e perpétuo,
queimado pela inocência demoníaca
dos corpos alagados de suor.

Mas escreve-se sobre amor como se existisse!
Como se fosse algo detido na palma da mão,
pedido emprestado, roubado, comprado,
demonstrado no vértice das palavras,
dnunciado com arrebatação do interior
do bosque inóspito que somos.

Tudo são feridas encerradas
nos aneís de fogo que assombram
as paisagens por conquistar.
Na linha universal do horizonte
está escrito que o mecanismo puro
a que chamamos amor,
não é mais que um fugaz acaso,
uma alucinação errante,
condenada desde sempre
ao esquecimento.


27 respostas a Perto da fronteira solar...

  1. Anónimo Says:
    "Está escrito que o mecanismo puro
    A que chamamos amor,
    Não é mais que um fugaz acaso,
    Uma alucinação errante,
    Condenada desde sempre
    Ao esquecimento."

    Goto-te mto meu lindo =D
    Beijos grd com mtos sorrisos =P
  2. joaninha Says:
    O amor é sempre a alavanca que nos faz escrever...mesmo que ele morra dentro de nós...e que os anos levem a que se pense que ele não pode existir.
    isabel-carmo@clix.pt. Obrigada pela visita e pelo teu belo escrito
  3. Anónimo Says:
    Estive por aqui...um beijo
  4. # Says:
    ...meus bosques estão cerrados...
    beijus para ti...
  5. # Says:
    ...meus bosques estão cerrados...
    beijus para ti...
  6. Eli Says:
    Não li, desculpa-me... hoje vim cá ver... passar os olhos... volto.

    :)
  7. joao firmino Says:
    É difícil o amor, porque é difícil sobreviver e viver o amor. Sobreviver implica encerrar numa defesa; amor significa abrir numa dádiva.
    E no meio disso tudo, vivem os poetas num fio sem rede...
    Um abraço e muita poesia.
    Bom fds (pronto, já sei o que é fds: 1 curto intervalo de tempo entre duas canseiras... f..da-se!).
    João
  8. Anónimo Says:
    As tuas palavras sao fortes demais pa contrapor c as minhas q sao apenas banais..apenas te retribuo o sorriso q me deixas sempre e um abraço de paz..beijinho*
  9. Isa e Luis Says:
    Obrigados pela tua visita ao singular.
  10. greentea Says:
    já podias ter dito...
  11. isa xana Says:
    muito bonito mesmo!!

    *
  12. lena Says:
    é impossível ficar indiferente ao que escreves

    se conseguisse acredita colocava o amor na palma da minha mão, mas aberta para lhe dar a liberdade que ele precisa

    beijos para ti, meu poeta amigo

    lena
  13. jorgeferrorosa Says:
    Lindo escrito que se derramou no meu cantinho, palavras únicas. Gosto bastante do que escreves, dessa força interior, única, que traduz fortemente os teus estados de alma.
    Peço que corrijas, nos linkes, onde tens Caderno da Alma, coloca Caderno da Alma II e corrige o link - http://jorgeferrorosa.blogspot.com - Obrigado. Continua a escrever, para que possa ir lendo essas maravilhas. Uma boa noite e um bom Domingo. Adeus. Abraço. Jorge
  14. Anónimo Says:
    Gostei muito deste amor que aqui li. beijinho mto grd e bom domingo ;***
  15. Anónimo Says:
    "Amor é fogo que arde ..."
    mas não é eterno...e tem mts formas!

    Palavras lindas e sentidas, as tuas! Adorei!!

    Beijo e bom domingo :)
  16. agua_quente Says:
    A tua poesia navega sempre nas contradições existentes entre a realidade nua e crua (normalmente nada bonita) e o sonho, os ideais de amor e beleza. Gosto. Vais fundo nos assuntos que tratas.
    Beijos
  17. greentea Says:
    iremos então até ao Butão...
    com sorrisos

    tive uma tia q foi de Fátima a Roma a pé, para ver o Papa...
    suponho que utilizaremos outros meios de locomoção
  18. Å®t Øf £övë Says:
    Todos de uma forma ou de outra escrevemos sobre o amor, porque o amor é das coisas mais ricas que temos nas nossas vidas.
    Podemos ter tudo, mas se nunca tivermos amado ou sido amados, passamos ao lado da vida e nada nela fará sentido.
    Abraço.
  19. Anónimo Says:
    Extraordinário...
    Respiro fundo, engulo em seco e vou-me daqui perfeitamente embevecida com as palavras.
    beijo doce
  20. Carla Says:
    Muito bonito :)
    Bjx e boa semana
  21. greentea Says:
    bora na estrela cadente

    sorrisos, com maçã e canela
  22. Fragmentos Betty Martins Says:
    Procuro uma linha
    numa tarde
    as que os aromas
    me seduzem
    a tarde...
    ensaia dentro da linguagem
    o equilíbrio
    dos alicerces...

    Sublime o teu poema

    Beijinhos

    (Lê - qualquer um livro de Luis Sepúlveda, vais adorar)
  23. greentea Says:
    bora bora!!!!!!!!!!!!!



    nada como um comment para nos fazer sorrir logo pela manhã!

    Beijo.
  24. Lady Says:
    O amor é sentimento... e de dificil descrição!!! Mas cada um tenta da maneira mais fiel, descreve-lo e com palavras mais adequadas e de acordo com o que lhe vai na alma... quer sejam poetas ou não... Esta concerteza será a tua, e sempre em magnificos vocábulos e analogias! ;) Um beijinho grande e inté...
  25. pecado original Says:
    E falas de amor como se nada fosse e nada é.. porque é tudo.
    Será pecado sim mas ele algures existe, não fosse ele inspirar-te.
    Indiscritivel e não são palavras que comentam os teus versos.
    Deixaste-me a vontade de ir e voltar...
    quem deixa hoje o sorriso sou eu e no canto do olho a miragem surreal das tuas palavras.

    Boa primavera
  26. Eli Says:
    Agora a ler e a absorver dou-me conta de que me "deste" uns versos deste poema, o qual deveria ter lido. Deve ter sido numa daquelas noites em que quase me deitava, mas não tinha sono, mas ficava de consciência tranquila se, em vez de estar com sono aqui, estivesse deitada na cama à espera que ele chegasse.

    Se falas do Amor, já estás a admitir a Sua existência... mas estas dissertações deixo para outra altura.

    Não existe só o que se vê.

    :)
  27. Anónimo Says:
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