A carta
⊆ quarta-feira, março 01, 2006 por GNM | Poesia . | ˜ 38 comentários »Vida, cansei-me de ti.
O meu cálice do tédio transbordou.
Toda tu és apenas um enorme
Vácuo sem qualquer significado.
Estou farto das esperancinhas graciosas
Com que me manténs preso aos teus grilhões,
Enfastiado da tua pobre realidade,
De onde não posso fugir
Sem ser através destas letrinhas que,
Bem sei, sempre o soube,
Nada valem.
Nada.
Absolutamente nada.
Esta noite pensei em todos os sonhos
A que tu, madrasta, me impeliste.
E sorri.
Por que não me fizeste outro?
Empregado de escritório
Que sonha com o subsidio de férias?
Por que não me deixaste ser o mendigo
Cujo maior sonho é ter um par de sapatos?
Este noite, Vida, não suporto as tuas dúvidas pueris,
Estou cansado das tuas problemáticas existenciais
De adolescente de treze anos
Com o rosto semeado de borbulhas.
Não Vida, não.
Estás enganada.
Não tens treze, tens vinte seis.
Mas talvez devêssemos agir,
Uma última vez, como adolescentes.
Como aqueles adolescentes que namoram
Durante o intervalo grande,
(Aquele de trinta minutos ente as aulas
De matemática e educação física),
Nas alas desertas do liceu.
Até que um dia,
Ele percebe que é bem mais útil
Aproveitar o intervalo grande
Para jogar à bola com os amigos,
Até porque se não o fizer vai perder, para o Gordo,
O lugar na equipe de futebol da turma.
E ela percebe que aquela história
De ter hora marcada para o jogo dos beijos
Pode ser, por vezes, aborrecida.
Muito aborrecida.
Talvez devêssemos dar um tempo.
E eu, descansaria por uns tempos
Nos braços desconhecidos da morte.
E tu, dar-te-ias a alguém diferente de mim,
Alguém que te amasse de verdade,
Alguém que não merecesse ter-te perdido.
Aquele amante a quem tu abandonaste
Segundos antes de confessar
O grande amor que o percorria.
Sabias que esse amor está até hoje a ameaçar
Explodir-lhe o peito como uma granada?
Vá lá, dá-lhe uma última oportunidade…
Vida, antes olhava-te, e o brilhozinho
Bem no centro dos teus olhos, seduzia-me.
Eras fogosa. Fascinante…
Toda tu eras cor, e forma, e sonho, e luz.
Esta noite, olho-te, e o que vejo?
Um vazio. Apenas um vazio.
Estou cansado das tuas euforias,
Dos teus contentamentos impassíveis,
Das tuas noites em branco
Com a face colada à vidraça
À espera que algo que não sei o que é.
Estou farto das tuas mentirinhas,
Dos teu jogos de sorte e azar,
Farto das lágrimas que me enevoam
Os olhos. Se ao menos estivessem esburacados…
Talvez cegando consiga ver.
Vida, esta noite vou sair até de madrugada,
Não me telefones, não me procures,
Se conseguires, nem sequer penses em mim.
E quando eu regressar, cambaleante,
Se algum dia eu regressar,
Vou dormir no sofá verde-seco da sala.
Vida, acredito que sim,
Acredito que não tenhas culpa.
Talvez eu tenha mudado…
Talvez esteja diferente…
Mas estou farto,
Farto de esperar pelo que nunca acontece,
E como bem sabes,
Eu nunca gostei de esperar.
Perdoa-me Vida,
Mas esta noite,
Eu deixei de te amar.
1/3/06 3:56 da manhã "Talvez devêssemos dar um tempo."...
talvez...
1/3/06 4:36 da manhã Já há algum tempo que vou passando assiduamente por aqui. Nunca comentei, não porque não goste, mas porque escreves de uma forma esmagadora, que me deixa sem palavras. Nunca me ocorre nada que faça sentido no momento.
Mas desta vez não resisto, talvez por reconhecer no que escreveste alguma da raiva que de vez em quando eu própria sinto. Uma raivazinha residual que explode nos momentos mais negros. Mas depois volta uma esperancinha mesmo que graciosa, e sonhar ainda é bom. Eu, talvez ingenuamente, continuo a acreditar que um dia acontece.
Espero que tu também voltes a acreditar. Até porque, perdoa o egoísmo, não te descobri assim há tanto tempo que me apeteça que acabe já...
1/3/06 12:31 da tarde conheço bem tal desamor, mas é arrufo,estou em crer...
a vida depois do dobrar daquela esquina ganha ar de novidade e apaixonas-te outra vez.
;)
1/3/06 12:33 da tarde Olá, daqui fala a Daniela!
Muito obrigada por me teres linkado, sinto-me honrada com esse gesto!
Este teu blog está repleto de bom gosto e toca-me sempre!
Um beijinho.
1/3/06 1:26 da tarde Melancólico mas bem escrito! :)
1/3/06 2:53 da tarde ok...geralmente comento os teus poemas, hoje não o vou fazer. Sei que a maioria das coisas que escrevemos não são (obrigatóriamente) autobiográficas. Mas este poema foi intenso e confesso que me fez sentir um «arrepio». Gonçalinho...faz um favor á Princesa :D passa pelo meu canto e diz ... olá Princesa estou aqui e bem ;) beijos poeta
1/3/06 4:06 da tarde Mau... empregado de escritório??? Ai, ai, ai... não me obrigues a descer a A1 para ir aí dar-te um puxãozinho de orelhas... olha que eu estou aqui a ver tudo! Estou longe, mas vejo tudo...
1/3/06 4:39 da tarde tenho passado e lido,não tenho comentado,mas hoje quando te li senti-me presa aqui,sem saber o que dizer,mas a saber o que senti.
Esmagador mas com tanto sentido!
Beijo
1/3/06 5:15 da tarde posso responder com uma musiquinha:
http://www.malhanga.com/musicafrancesa/becaud/maintenant.htm
;)
sempre amanhece.
;)
1/3/06 5:24 da tarde Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que sogue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.
1/3/06 5:32 da tarde ora ora...
1/3/06 6:32 da tarde Bom... por conta de minha cirurgia, dia 03/03, vou estar no mais completo e repousante ócio por umas duas semanas ao menos. até lá, pareça e confira mais uma republicação e/ou um novo texto no site Catanduva na Rede!
1/3/06 7:01 da tarde "O mundo novo constroi-se a partir do momento em que nos abrimos ao poder superior do universo, que reside em nós, e deixamos conscientemente circular essa energia. Qd estabelecemos o contacto com a nossa consciencia espiritual interior, descobrimos que o poder criador do universo reside em nós." Shatki Gawain in VIVENDO NA LUZ.
Um beijo para ti. gostei muito .
1/3/06 7:58 da tarde Oi!
Gostei.
*CC*
1/3/06 9:10 da tarde Vim aqui parar ... não sei como nem porquê... mas fiquei presa às palavras. São sentidas no seu âmago. Provávelmente, nem deveria ter entrado neste seu sitio de reflexão, raiva, tristeza... tantas outras coisas... mas não consegui conter-me. Isto, só para lhe dizer que compreendo tds os sentimentos aqui postos, eu pp já os senti inumeras vezes. A vida... essa possibilidade que nos é dada mas tão dificil, por vezes, de ser vivida! Apesar de tudo, gostaria de lhe dizer que melhores dias virão. Sim, eu sei que parece colado. Mas, por experiência pp, descobri que é apesar de custar, essa é uma realidade a que nos devemos agarrar.
Bem haja!
1/3/06 10:09 da tarde Muito forte... muito sentido...
Vida... e o que seria a vida se não fosse assim?...
Bjx
1/3/06 10:24 da tarde Gostei de o ler apesar do desespero!
Intenso, muito intenso!
A vida tem destas coisas!
Força! Tudo se ultrapassa.
Deixo-lhe o meu abraço com carinho :)
1/3/06 11:15 da tarde Ups...
......
......
respiro fundo olho para ti dou-te o meu sorriso...
posso abraçar-te?
e dizer-te um segredo?
Beijo para ti homem grande que não passa pela vida sem a ver.
2/3/06 1:13 da manhã Eis-me aqui emocionada
ao ler a tua poesia...
de uma alma apaixonada...
cheia de sonhos e fantasia...
Gostei, Gonçalo, prometo resposta bem como ao outro, logo que tenha um pouquito mais de tempo.Mata saudades no joaninha.BJSSSSSSSSSS
2/3/06 2:14 da tarde Um texto muito , mas muito forte...palavras como flamas que se ateiam e se incendeiam...magnifica a tua escrita. Beijinhos :)
2/3/06 6:43 da tarde Melancólico mas lindo como sempre...
Meu lindo, estarei aqui sempre...
Sorrisos com beijos
3/3/06 12:35 da manhã Querido GNM,
é sempre bom voltar a este teu cantinho!!
Escreves de uma maneira tão boa, as tuas palavras são belas, quase que perfeitas...pois nem tudo o que é perfeito é belo!!
Triste, mas líndo!!!
Beijos
:))))
3/3/06 11:13 da manhã De uma qualidade tremenda, este teu texto que nos embala. Palavras que se soltaram e deram asas aos teus sentidos. Um beijo na alma.
3/3/06 7:52 da tarde Trabalho maravilhoso
Nem sei o que dizer...
É condão precioso
Para quem sabe escrever.
Assim tão profundamente
Aquilo que se vai sentindo
Não é que seja diferente
Mas é Sol eternecido, sorrindo.
Gostei do escrito. Está excelente. Parabéns.
3/3/06 11:37 da tarde Vida, para mim é ...este
parceiro de um jogo de xadrez...que desde o mover da primeira pedra me pôs em xeque...
beijo, querido...
3/3/06 11:42 da tarde Gonçalo,
Fiquei em silêncio, e sem palavras... com um nó na garganta ao ler-te.
Se tu soubesses o quanto me identifico com o que tu aqui escreveste...
Bom fds.
Abraço.
4/3/06 1:41 da manhã Não há aí um raiozinho de sol?
que entre no teu olhar
e
que siga o caminho do teu coração!
Triste, nostálgico, sentidamente magoado - mas inequivocamente belo.
Beijinhos
Bom fim de semana
4/3/06 12:59 da tarde Qualquer palavra q tenha sera pobre diante do q escreveste..é triste sim..mas a frieza e ao mesmo tempo uma força enigmatica c k escreves,essa sim chama a atenção..principalmente pk me revejo nas tuas palavras..pois pior q estar morto é sobreviver enquanto se esta vivo.. beijinho*
4/3/06 8:34 da tarde Bom fim de semana para ti...
SORRI... eu faço-o. Não é o que pedes?
Beijo
5/3/06 2:49 da tarde Por vezes entramos em dissonancia com a nossa vida e preferimos separarmo-nos dela. Realmente é dificil viver numa vida que nem sempre é aquela que queremos escrever.
A tua "carta" está linda...
Que nada te impessa de sonhar.
Bom domingo, Mari
5/3/06 9:37 da tarde Olá Gonçalo:
Ontem ouvi-te dizer este poema no jantar de Santarém e agora vim dar uma olhadela ao teu Blog. Que diferença... Agora compreendo a profundidade da tua escrita.
E fico estupefacto, com a diferença entre uma pessoa que parece estar entre a vida e o desfalecimento e a tremenda força das palavras aqui deixadas.
Força Gonçalo!
Um abraço,
João
5/3/06 10:02 da tarde Alô Gonçalo!
tens o poema que te dedico no joaninha. Responderei à tua carta logo que possivel. É deliciosa a tua escrita. Beijinhos
5/3/06 10:18 da tarde Se tudo isto é banal, onde existe o divino?
É material a dor, supérfluo o sofrimento?
Onde encontrar razão, finalidade, alento,
Por resignar-se o destino em triste desatino?
E se há uma estrela, além, marcando-nos o destino,
é esforço vão fugir ao perigo dum momento!
E se uma folha move, foi em pensamento…
Sacudida por Deus! Não é livre o caminho!
E, porque a carne é impura e, nos arrasta e prende,
é sacrilégio, o amor...o amor que nos ascende,
ao sublime e à renúncia… e permanece eterno…
Existe o bem e o mal? E a dor que nos tortura?
Não deve, além da morte, haver mais amargura!
Que viver, não pode haver maior inferno!...
(Memórias minhas...)
... há momentos e, "momentos"...
momentos
de vida
de dor
de amor...
momentos
cegos
loucura
perdão
momentos de
Vida
por
Vida
que se quer
com paixão...
... não desprezes essa Vida... porque amar a Vida, é a coisa primeira...
Um abraço e boa noite ;)
5/3/06 10:39 da tarde Intenso...
Também tenho passado por aqui, mas não me sinto com capacidade para comentar tamanha veia!
Abraço amigo
Boa semana
5/3/06 11:19 da tarde "Farto de esperar pelo que nunca acontece,
E como bem sabes,
Eu nunca gostei de esperar."
A vida não se deve esperar e sim correr atrás dela! ;)
um beijinhu doce
6/3/06 12:33 da manhã Passo por cá numa corrida, apenas para deixar testemunho de que é um privilégio podermos, em esquinas ainda que fugazes da vida, partilhar momentos destes.
E como privilegiados que somos, tão só por aquilo que sai das nossas mãos, não podemos deixar de ficar imensamente satisfeitos.
Grato, meu amigo, pela tua participação.
Um abraço.
6/3/06 7:44 da tarde Gonçalo,
depois de 43 comentáriosr já deve ter sido tudo dito. Só me resta repetir o que disse no meu blog: que foi um dos poemas que mais gostei de ouvir no Sábado.
Um abraço.
2/3/07 9:00 da manhã Excellent, love it! Honeywell network security Parts for a 1995 oldsmobile cutlass sport eyewear 01010101010101010101010101010101 getting klonopin klonopin prescriptions Fax 2bsoftware klonopin and weight