Não sei o que queres dizer com glória, disse Alice.
Humpty-Dumpty sorriu, com desprezo. Claro que não, até que eu te diga. Quero dizer "aí tens um belo argumento que te arruma!"
Mas "glória" não significa um belo argumento que te arruma
, objectou Alice.
Quando eu uso uma palavra, disse Humpty-Dumpty, em tom de escárnio, ela significa o que eu decidir que significa, nem mais nem menos.
O problema é, disse Alice, se se pode obrigar as palavras a significar tantas coisas diferentes.
O problema é, disse Humpty-Dumpty, quem manda. Apenas isso.

Lewis Carroll, Alice no país das maravilhas




rascunhos
de
abordagens
(eventualmente)
literárias



GNM


Nasci muito perto do fim dos anos 70. O meu nascimento aconteceu às primeiras horas de um dia gelado de Dezembro, e, desde aí, jamais consegui libertar-me do frio que se fazia sentir naquele dia. A normalidade foi algo que durante toda a vida inconscientemente ansiei, mas sempre recusei. Em criança ela espreitava-me durante a noite, olhando-me do lado de fora da janela. E eu, fingindo não a ver, fechava as cortinas...

Sal

⊆ sexta-feira, agosto 19, 2005 por GNM | ˜ 2 comentários »

Quem é o sal?
Aqui, no meio da multidão.
Dizendo que sim, sabemos que não.
Mas qual é o mal?
Qual é o mal, de viver sem sal,
De esconder a dor,
De mostrar pudor,
De viver sem furor,
De fingir o Amor,
Mas qual é o mal?
Qual é o de ser apenas mais um mortal?
Ser alguém previsível e temporal,
Que vive sem sal,
Que se esconde no fim,
Que só diz que sim,
Que sonha com jasmim,
Mas qual é o mal?
Qual é o mal, de se escravizar à moral?
Ser mais um igual ,
Que repele o sal,
Que vive no passado,
Que sonha acordado,
Num sono dourado,
Que um dia, já quebrado,
Nos olha nos olhos e diz:
Mas qual é o mal?
Qual é o mal, de ser mais um ser banal?