Não sei o que queres dizer com glória, disse Alice.
Humpty-Dumpty sorriu, com desprezo. Claro que não, até que eu te diga. Quero dizer "aí tens um belo argumento que te arruma!"
Mas "glória" não significa um belo argumento que te arruma
, objectou Alice.
Quando eu uso uma palavra, disse Humpty-Dumpty, em tom de escárnio, ela significa o que eu decidir que significa, nem mais nem menos.
O problema é, disse Alice, se se pode obrigar as palavras a significar tantas coisas diferentes.
O problema é, disse Humpty-Dumpty, quem manda. Apenas isso.

Lewis Carroll, Alice no país das maravilhas




rascunhos
de
abordagens
(eventualmente)
literárias



GNM


Nasci muito perto do fim dos anos 70. O meu nascimento aconteceu às primeiras horas de um dia gelado de Dezembro, e, desde aí, jamais consegui libertar-me do frio que se fazia sentir naquele dia. A normalidade foi algo que durante toda a vida inconscientemente ansiei, mas sempre recusei. Em criança ela espreitava-me durante a noite, olhando-me do lado de fora da janela. E eu, fingindo não a ver, fechava as cortinas...

Quando

⊆ sexta-feira, agosto 19, 2005 por GNM | ˜ 5 comentários »

Quando olho os teus olhos,
Quando me perco na multidão,
Quando revelas os teus sonhos,
Quando te pego na mão,
Quando toco a tua pele macia,
Quando sinto o teu cheiro,
Quando iluminas o meu dia,
Quando o preenches inteiro,
Quando te zangas comigo,
Ou me tentas ultrapassar,
Quando dizes pára e eu sigo,
Quando nos sentamos a jantar,
Quando me deito a teu lado,
Quando te vejo dormir,
E o teu sorriso encantado,
Põe-me também a sorrir,
Quando me dizes que sim,
Quando me dizes que não,
Quando choras sem fim,
Quando me feres o coração,
Quando te alago de carinhos,
Quando me sinto desejado,
Quando cruzamos caminhos,
Quando tudo dá errado,
Quando chamas o meu nome,
Quando me pedes sempre mais,
Quando me dizes: Dorme!
Quando partes e sais,
Quando imaginamos o futuro,
Quando fugimos das chuvas,
Quando saltamos o muro,
Quando enganamos águas turvas,
Quando finjo ser forte,
Quando nos abraçamos,
Quando discutimos a morte,
Quando por amor nos tocamos,
Quando pensas em desistir,
Quando me dizes que não consegues,
Quando nem me queres ouvir,
Quando não sabes o que persegues,
Quando o tempo parece fugir,
Enquanto o tentamos parar,
Quando não consegues dormir,
Quando a luz se apagar,
Quando e sempre até ao fim,
Até ao último momento,
Estarei aqui dizendo-te que sim,
Até uivar o último vento...


5 respostas a Quando

  1. Anónimo Says:
    É um poema muito belo, escrito num estilo muito próprio.
  2. Ana, Dona do Café Says:
    adorei :) adorei mesmo...está fantástico! *
  3. Anónimo Says:
    Se todos os poetas
    Esses ridículos,
    Escrevem um dia sobre o amor
    Escrevo também agora sobre essa coisa,
    Esse tudo, esse nada,
    Essa afronta à humanidade
    Essa insanidade.

    É-se amado, amada, amante, amador
    Marcado a ferros em brasa, trespassado,
    Contundido e envolvido pela névoa da quimera
    Pela eterna espera,

    Se fosse amor, era claro,
    Mas nunca dura para sabermos, senão pela dor,
    que a memória do amor passado
    Obnubila tudo, e é nada.

    É uma vaga passageira,
    Invade as entranhas à sua maneira peculiar
    Aparência solar
    Liquidez lunar,
    volátil e ébria
    Queima do sal amargo das ausências
    Do absinto da perda
    Invade tudo e contudo,
    É nada.

    Mas todos falam do amor como se fosse algo
    E neste tempo material, essa demanda do Graal
    vende-se em todo o lado,
    Em risos disfarçados de sorrisos
    Em preto e branco a cores
    Em negra luz
    Em tudo,
    que nada mais é, que nada.
  4. Eli Says:
    Tanto para dizer...

    :)
  5. Anónimo Says:
    Admiro imenso o que escreves,ou melhor os pedaços de alma que consegues transcrever em folhas de papel inertes.
    Eu adoro escrever,cuspo palavras que insistem em termelicar e desaparecer com a queda das minhas lágrimas...estalactites salgadas que me rasgam numa caricia!Adorei tudo o que escreveste e sinceramente quero acompanhar o bailado que danças com cada palavra que escreves...o amor que com elas fazes e o sentimento que transpiram! Ainda hoje li algo teu,através da minha amiga Otilia,a ela devo agradecer o prazer e a honra de conhecer os teus trabalhas,o teu mundo...a ti e a ela agradeço...Ardat Lile Upiercza Lilith .

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